Poesia e loucura

Fiz até o quarto ano de Medicina. Quando pagava Psiquiatria, o professor levou a turma para ouvir o depoimento de um paciente que saía de uma crise psicótica.

O paciente não estava totalmente curado, mas tinha alguma consciência do que passara. Contou uma série de detalhes que eu já esqueci.  Mas me lembro do que disse para explicar como se livrara de um delírio: “Torei a escuridão”.

 “Torar a escuridão”. Isso é uma imagem (uma representação figurada), mas ele lhe atribuía um sentido literal. Explica-se: o psicótico não sonha nem metaforiza (é a chamada delusão). Para ele, “torar a escuridão” é mesmo quebrar alguma coisa escura…

 Isso me fez pensar que a loucura é uma poesia doente, assim como a poesia é uma loucura sã.

Publicado por Chico Viana

Chico Viana (Francisco José Gomes Correia) é professor aposentado da UFPB e doutor em Teoria da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em sua tese, publicada com o título de O evangelho da podridão; culpa e melancolia em Augusto dos Anjos, aborda a obra do paraibano com o apoio da psicanálise. Orientou cerca de 37 trabalhos acadêmicos, entre iniciação científica, mestrado e doutorado, e foi por dez anos pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq). Desde muito jovem começou a escrever nos jornais de João Pessoa, havendo mantido coluna semanal em A União e O Norte. Publicou cinco livros de crônicas.

3 comentários em “Poesia e loucura

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