Uma das funções da arte é reinventar a Natureza. É infundir-lhe alma, tornando-a uma representação dos conflitos humanos. Em poucos artistas se vê isso com tanta eloquência como em Van Gogh. É surpreendente a energia com que o pintor representa flores, objetos, figuras humanas. Ele procura captar não a aparência reconhecível, mas a dimensão profunda do que é representado e vem a traduzir seus próprios temores e obsessões. Como escreveu ao irmão Theo, num rosto importam menos os traços do que a expressão. Existe uma energia latente nos elementos da Natureza, e cabe ao artista expressá-la. Van Gogh o faz em pinceladas vibrantes e de uma rara densidade cromática. Estar diante de uma tela dele nos ajuda a entender por que Dostoiévski disse que a Beleza salvaria o mundo.
(Amsterdã, 05 de julho de 2018)