Platão não queria os poetas na República. Considerava-os perturbadores da ordem. A ideia de que a arte contém o fermento da desordem é velha e tem servido de justificativa para que governos totalitários (de esquerda ou de direita) busquem limitar ou dirigir as manifestações artísticas. O pretexto para isso é a vinculação que elas deveriam ter com ideologias como a do nacionalismo.
A arte não pode se comprometer com projetos nacionais, que servem basicamente a interesses do Estado. Ela é a “região da liberdade” e deve atender aos anseios dos artistas; por meio das obras eles expressam suas angústias e perplexidades (que são as de todos nós). Fazem, assim, com que nos conheçamos melhor.
A função da arte, como diz Alain de Botton, é proceder à “crítica da vida”. Isso não se faz sem liberdade e compromisso com os valores éticos.
Quem se propõe a doutrinar moralmente sobre a arte ou não entende nada de estética ou está mal-intencionado. Por mais que acene ao heroísmo, ao sentimentalismo ou ao sacrifício em prol da nação, não esconde seu nefasto propósito de retirar do homem o que o peculiariza — a liberdade de pensar e a possibilidade de traduzir as inquietações que lhe vão na alma.