A passagem do ano nos torna filosóficos. Incita-nos a pensar na morte, no tempo, em Deus. Uma das frases que mais me impressionaram na adolescência foi: “Nunca alcancei a graça do ateísmo perfeito”. Quem a escreveu foi Carlinhos Oliveira, cronista do Jornal do Brasil e boêmio carioca. Carlinhos morreu de pancreatite alcoólica e viveu torturadoContinuar lendo “Deus e a graça”
Arquivos da categoria: Sem categoria
Questão de gosto
O gosto aprendido satisfaz mais do que o espontâneo, pois é valorizado pelo grau de esforço que fazemos para alcançá-lo. Vem com uma ponta de orgulho e autogratificação. Já o gosto espontâneo, como não exige empenho, com o tempo se transforma em tédio.
A condição
Recentemente vi na televisão uma mulher fazer o nome do pai antes de assaltar uma joalheria. Não foi a primeira fez que assisti a cenas desse tipo, envolvendo até crimes mais graves. O indívíduo invoca sinceramente a proteção divina, pois vai correr riscos e pretende sair incólume da aventura. Espera a proteção de Deus mesmoContinuar lendo “A condição”
Internet e fofoca
A internet potencializou a fofoca. A fofoca não é novidade, claro; sempre houve pessoas que precisam depreciar os outros para se sentir melhores. Mas antes a vida alheia era objeto de comentários discretos. Havia certo pudor do fuxico. Hoje a maledicência é propaganda sem limites nas redes sociais. E a coisa piora devido ao distanciamentoContinuar lendo “Internet e fofoca”
O democrata e o demagogo
O democrata se curva à vontade do povo. O demagogo curva o povo à sua vontade, dando a impressão de que age em prol do bem público. A arma do demagogo é a ideologia, que tem força de religião e lhe confere uma aura de santidade. Nimbado dessa auréola, ele ganha uma espécie de imunidadeContinuar lendo “O democrata e o demagogo”
Não é bem isso
(atualizando alguns clichês machistas) – Toda mulher gosta de apanhar (os objetos que os homens deixam pelo chão). – Mulher não sabe dirigir (quando é o homem que orienta o tráfego). – Mulher não entende de futebol (jogado por certos pernas de pau). – Onde há confusão, tem mulher (buscando moderar os ânimos). –Continuar lendo “Não é bem isso”
Cacófatos
— Tudo que eu quero é amá-la. — Que mala? — Não, não me refiro a mala, objeto. Falo de amar você. Amar-te. — A Marte? Você quer ir para Marte? Mas como? — Quem disse que eu queria ir para Marte? Quero ficar na Terra, claro. Contigo. — Com Tigo? E quem é Tigo?Continuar lendo “Cacófatos”
Particípio perigoso
Há quem diga “tinha chego”. Essa mania de criar particípios irregulares preocupa os que zelam pela língua. Imaginem um dia a gente ouvir, por exemplo, uma mulher dizer que “tinha pinto”… Não ia pegar bem!
Questões transcendentes e respostas nem tanto (3)
1) Você se acha uma pessoa constante? R.: Às vezes. 2) Como distingue sexo de amor? R.: No sexo, cuidamos do outro pensando em nós; no amor, cuidamos de nós pensando no outro. 3) Tem medo do inferno? R.: Tenho mais medo dos que querem me livrar do inferno. 4) Diga uma frase essencialmente mentirosa.Continuar lendo “Questões transcendentes e respostas nem tanto (3)”
Questões transcendentes (e respostas nem tanto) 2
1) Você acha a existência gratuita? R.: De modo algum. Tudo nela é pago — da maternidade, onde nascemos, à capelinha onde vão nos velar. 2) O que é, para você, um grande homem. R.: Um grande homem, o mais das vezes, é alguém de quem só se conhece uma pequena parte. 3) Tem medoContinuar lendo “Questões transcendentes (e respostas nem tanto) 2”