Como o Brasil é o país do futuro, parece que deixamos para vivenciar amanhã o que outros países já enfrentaram em matéria de pandemia. Enquanto neles a curva de infecção decresce, entre nós ela só faz subir. É com uma ponta de inveja que vejo as pessoas invadirem as ruas na Itália e na França. Ainda usam máscaras, mas ficaram livres do confinamento. A única exceção na Europa é a Suécia, que por sinal já foi citada pelo nosso presidente como um modelo a ser seguido. Deu errado lá, continua dando errado aqui. Ainda assim, parece que não nos dispomos a aproveitar a lição. O governo parece encarar o problema com indiferença; indagado por um repórter sobre o elevado número de mortes, o presidente respondeu que “todos morremos um dia”. Ele se mostra muito compenetrado dessa verdade, na qual se embute um fatalismo que mascara a letargia e a omissão. Se morremos mesmo, que há de mais em antecipar o desenlace de uns tantos brasileiros (de preferência velhos, pois desse modo se matam dois coelhos: reduz-se a densidade demográfica e desonera-se a Previdência)?
Notas sobre a pandemia (25)

Publicado por Chico Viana
Chico Viana (Francisco José Gomes Correia) é professor aposentado da UFPB e doutor em Teoria da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em sua tese, publicada com o título de O evangelho da podridão; culpa e melancolia em Augusto dos Anjos, aborda a obra do paraibano com o apoio da psicanálise. Orientou cerca de 37 trabalhos acadêmicos, entre iniciação científica, mestrado e doutorado, e foi por dez anos pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq). Desde muito jovem começou a escrever nos jornais de João Pessoa, havendo mantido coluna semanal em A União e O Norte. Publicou cinco livros de crônicas. Ver mais posts